segunda-feira, 13 de julho de 2009

ORGASMOS


(Orgasmos: *forma de Deus).





Saio de mim desconhecida e encontro-me alma, toda inteira.
Dispa-se a frieza e o absurdo se torna meu nome.
Porque eu vou além.
Fico aquém do mundo e por um segundo vivo milênios...

Ah, teu suspiro, meu sussurro mais breve.
Leve lareira que me aquece.
Me entontece a conta-contas...

Desejo ser negra de pele, forte e viva.
Feito bicho me espalho.
Pantera sedosa. Dona de si.

Branca sou feito a sombra pálida que me enlouquece.

Quando desejo morrer pra sempre nesse gozo eterno e divino.

Alma que pulsa no corpo.
Sangue que corre feito raio no céu feérico de minhas entranhas...
Quero a mim mesmo como a ti.
Enxergo meu próprio espelho naquilo que toda sou.

Santificada seita que me aliena.
Me toma aos passos... e em cada carícia minha consome meu sono.
Dono de mim é o desejo de amar.
Penetro-me como um conhecido-desconhecido.
Quero ser Deus e brincar de viver embebida de divindade e verdade.
Imaculada do espírito santo do meu sexo.
Aquele que chega como que sem nome e se revela íntimo na primeira dança.

Perfeição de movimento, que balança minh’alma.
Sou suor.
Em estado líquido me conheço de perto.
Tão perto que não me sou nítida, apenas sou.
Inteira, eterna e diluída na matéria que me evapora.

O vento sobra sem que a chama do corpo o sinta.
E eu diluo...
Quero ser virgem de novo para morrer pra sempre.
Todas as vezes que a minha alma se esvai.
Vaga e suspensa flutua.

Leve na rua de minhas lembranças...
E eu abro os braços, selo abraços.

Sou tudo o que quero.
O que não há já existe e insiste em me tomar.

Sou terra e semente.
Gente.
Pele.
Ar.

Orgasmos das mesmas ironias...
Espasmos do tempo.

Jovem desde o outro século.
Livro aberto nas linhas da mão.
Religião e canção abraçadas.

Sou da estrada a continuação.
Pensamento, solução.

Desejo bordô.
Sou cor.
Imensidão.

E essas palavras que trago, evangelho de meu lado mais humano.
Sou tudo o que quero e espero não mudar.
Não ligo pra grifes, pela epiderme que Deus não fabrica mais do barro...
Nem o cigarro me trás de volta.

Animais nos cercam e os ameaçamos sem entender nossos instintos.
Tu sentes, ele sente, eu sinto.

E só.

E o vento ainda sopra, sem que a chama do corpo sinta.


*Espargos JMC - de Maria Flor.

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