"Perdi ontem os meus brios...
Deixe-me arfar em desesperoPerdi, como quem perde os filhos
Como quem perde a própria vida
Perdi essa vontade de olhar o céu,
De se banhar de lua e mergulhar no mar...Perdi as cores que pintavam as paragens de meus olhos
Da mesma forma que perdi o brilho delesSe foi, como um desses desastres naturais
Que nos vem de repente, sem escolha nem refúgio
Quase sem chance de me voltar com vida,
De me voltar a vida que se esvai....Sem que eu pudesse pensar
o quanto me eram tão importantes
Ainda mais que os diamantes
e os minerais mais deslumbrantesPerdi quem me sustentava os pés
Quem me protegia dos cacosDo caos da terra
E dos atos incrédulos de frio e fomeSenti, como quem sente a perda de um homem
Que em vida fora terno e generosoPerdi aquilo que, de mais viçoso
A minha mocidade possuía
Como posso conformar-me em perder sorrisos?
Noites de luz da lua e violão?
Corridas diurnas nos campos e jardins?
Longas cavalgadas e a bela canção?
Aquela mesma que a ti fiz, um dia
Dia que tão feliz te possuíaIngenuamente não me percebia...
Perdi enfim, meus sonhos
Minha verdade
Perdi assim, até minha identidade
Foram-me os dias perdidos, sem saber
Simplesmente foram como acabo de aprender
Que assim nos fazem todas as coisas nessa vida
Porém perdi de mim grande pedaço
Perdi meus pés que se negam a me sustentar
Os mesmos que me causam o embaraço
De não compreender tais laços,
Nem onde me foram parar os cadarços
Que a meus olhos não se querem mais mostrar
Perdi minha alma, agora perdida
E nem sei o que será desses meus atos
Porque eu perdi os meus sapatos..."
quinta-feira, 16 de julho de 2009
VANS SAPATOS
OLHOS
"Olhos de crianças falam,
Olhos de crianças choram,
Choram quando falam, moram
Dentro de meus próprios olhos...
Olhos do céu são estrelas
Choram mais do que as crianças
Quando encharcam a'lma chove
Nunca perdem a esperança...
Chôro quando pára escorre
Fôlego da alma encurta
Coração calado chora
Um amor parado escuta..."
terça-feira, 14 de julho de 2009
BRANCA FULÔ
TUDO
Tudo ficou sem graça
Amor em preto e branco
Dentro desse canto
Quero te encontrar
Tudo mudou, a praça,
O riso, a festa, a sina,
Sem essa menina vou me acabar
Tudo perdeu a graça da sua graça
Tudo correu, sentido fez fumaça
Teu cheiro, teu amparo, tua pele fina
Olhos de menina, cor do azul do mar
Tudo perdeu a graça da sua graça
Tudo correu, sentido fez fumaça
Teu cheiro, teu amparo, tua pele fina
Olhos de menina flor do meu olhar
segunda-feira, 13 de julho de 2009
CHORO DE SOL, GOSTO DE SAL N'ALMA
Hoje o céu me acordou azul e o sol amarelo, como sempre, cheio de raios...
Diferente do branco e preto de ontem, também diferente do que esperava, pois o sol numa surpresa desenfreada, quis ver minh'alma lavada e por isso chorou.
Hoje choveu e fez sol ao mesmo tempo, como se esse sol se tornasse meu cúmplice, como só ele pôde entender.
E eu me fiz todas as cores, que o sol refletia em suas lágrimas e pintei de arco-íris os meus cabelos.
Saí.
Tomei banho de chuva de roupa e mochila e rí.
Um riso molhado e ainda fumê, mas ainda assim resplandecente.
Rí do ônibus que terminou de fazer o favor de converter-me em charco, enquanto todo resto das gentes se protegia em suas paradas, do era inevitável, do que já encharcara a alma...
A lama era creme para os cachos com cheiro de café com chocolate e meu pé o leme de meu próprio rumo.
Eu ví o céu e o sol chorou comigo e me ensinou a sorrir, esta manhã.
Quando a lua ocupar o seu lugar, estarei posta e nua para o próximo banho desta alma que o corpo aperta.
E espero nua, essa lua, que vem me afagar até o próximo sol.
CHUVA
E como bom vinho me esquenta.
É a lembrança mais viva que ficou em mim.
Em dia chuvoso feito este, o calor do teu corpo corre em mim desesperado.
Quando o sol não amanhece com o dia e, preguiçoso, abre espaço para a chuva.
Minhas mãos procuram tuas carícias...
Neste frio embriagador, tudo em mim chove.
Até que eu vire gota, me reviro em pensamento.
Devaneio alheio a mim e tão meu.
Quanto mais chovo, ainda mais me aqueço dessa lembrança atrasada.
Minha casa é uma nuvem carregada e escura.
Sublime desejo de escorrer do céu...
DOMINGO
*À Fernanda Meirelles
Vou te contar.
Domingo pra mim é dia de dormir e acordar.
Dormir acordado. Acordar dormindo...
Domingo podia se chamar dor-min-do.
Aquele dia para bocejar.
Andar nu pela sala de casa (de preferência quando não houver visita!), só para se sentir mais... a vontade.
Quando o domingo se desperta em mim, eu vou procurar o que não fazer de algum afazer que, porventura tenha sobrado do sábado.
Há domingos mornos e calmos feito o canto de seus pássaros.
Outros porém insanos e amarrotados de vizinhos nada silenciosos.
Vizinho é coisa engraçada.
Solitários ou a moda italiana.
Tem vizinho que somente aos domingos recebem a visita de um espírito generoso que o faz pensar no domingo como “o grande dia para compartilhar o som novo do carro ou o cd da banda preferida” (geralmente forró ou funk) com toda a comunidade - sim, porque não faz muito sentido ouvir jazz, bossa ou MPB em volume que não se entenda a melodia e a letra.
Domingo me lembra dia de missa no interior.
Fico eu aqui imaginando em pleno domingo o dia de domingo no tempo de minha avó.
Quando as moças podiam ter um raro momento de... paquera? Talvez.
Como nos livros em que domingos soavam em todos os tons de sinos religiosamente dominicais.
E não teria como esquecer a imagem que sempre me vem dos domingos chuvosos repleto de anjos escorrendo pelas paredes das igrejas de um profano Nelson Rodrigues.
Esse domingo também choveu, mas eu não enxergo mais os anjos deslizantes que outrora via.
Também não freqüento mais igrejas, nem aos domingos.
Domingo agora é lei de caso e acaso, deliciosamente libertino.
Dor
De não saber
Perder de si
Dom de viver
De entender
Encontrar-se...
Que dor é essa que até cega o dom divino de amar?
Dor do querer
E por não ter
Se magoar...
Feminina
Da mais fina camada de paixão
Ela é luz que irradia de beleza
De qualquer ser humano, coração
A mulher, velha, jovem ou menina
É mistura que ensina inspiração
Sina do amor que nasce a cada hora
É saudade que chora de emoção
A mulher simplesmente é obra prima
É formosa a menina que eu vejo
Sua boca tem gosto do desejo
Só a luz dos seus olhos me anima
Quando fala me cala, ilumina
Quando cala, minha alma alucina
A menina que é toda formosura
Tem na delicadeza o dom da cura
Quando passa o balanço da cintura
É mistura de encanto e de paixão
Sua delicadeza me tortura
E acelera meu pobre coração
E eu juro que um dia inda te vejo
Entre o meu largo abraço e o doce beijo
Misturando-se ao riso o triste pranto
Dedicar a você todos os santos
Ao sabê-la perdida de desejo
Encontrar-me embebida em tuas pernas
Afagando-lhe o corpo pelos meios
E senti-la acariciar-me os seios
Na tontura do tempo que alucina
Imaginando essa voz de menina
Flor da pele desabrocha e imagina
Tanto amor para amar o que eu venero
Numa noite de luz e de mistério
Um momento de alma feminina.
Fugir e Ser
Seguir além da rua e direção
O olho, o toque, o riso, a fé e a mão
O vento, o choque, o carro, a confusão...
Prazer conhecê-la em noite de lua encantada...
Escoltada ou não, a alma reluz.
E nossos dias seguirão azuis de uma feminice inexplicável.
Boa noite dominadora, por hora dominada
pelas “águas belas” de nossa feminês...
Grata pela agradável hora, outra como esta talvez...
Nada é igual, nem se repete.
Boa noite, nada mais, nem a esperança!
O que se foi passou numa lembrança saudosa do que podia ter sido.
Grata pela passageira amizade, forte como esta saudade que me invade a alma.
Saudade do que nem existiu.
Boa noite amiga!
PANDEIRO
"Pandeiro bate, ritmando noite e dia
Minha alegria é repercutir-canção
Eu passo o dia relembrando uma saudade
E a noite passo vivendo na solidão...
O meu amor que me deixou, partiu sem jeito
Dentro do peito me deixou uma canção
Ao pé da porta me deixou flor amarela
E seu pandeiro talhado em minha mão
O seu sorriso está gravado na janela
E seu carinho guardado no coração."
ORGASMOS
Dispa-se a frieza e o absurdo se torna meu nome.
Porque eu vou além.
Fico aquém do mundo e por um segundo vivo milênios...
Ah, teu suspiro, meu sussurro mais breve.
Leve lareira que me aquece.
Me entontece a conta-contas...
Desejo ser negra de pele, forte e viva.
Feito bicho me espalho.
Pantera sedosa. Dona de si.
Branca sou feito a sombra pálida que me enlouquece.
Quando desejo morrer pra sempre nesse gozo eterno e divino.
Alma que pulsa no corpo.
Sangue que corre feito raio no céu feérico de minhas entranhas...
Quero a mim mesmo como a ti.
Enxergo meu próprio espelho naquilo que toda sou.
Santificada seita que me aliena.
Me toma aos passos... e em cada carícia minha consome meu sono.
Dono de mim é o desejo de amar.
Penetro-me como um conhecido-desconhecido.
Quero ser Deus e brincar de viver embebida de divindade e verdade.
Imaculada do espírito santo do meu sexo.
Aquele que chega como que sem nome e se revela íntimo na primeira dança.
Perfeição de movimento, que balança minh’alma.
Sou suor.
Em estado líquido me conheço de perto.
Tão perto que não me sou nítida, apenas sou.
Inteira, eterna e diluída na matéria que me evapora.
O vento sobra sem que a chama do corpo o sinta.
E eu diluo...
Quero ser virgem de novo para morrer pra sempre.
Todas as vezes que a minha alma se esvai.
Vaga e suspensa flutua.
Leve na rua de minhas lembranças...
E eu abro os braços, selo abraços.
Sou tudo o que quero.
O que não há já existe e insiste em me tomar.
Sou terra e semente.
Gente.
Pele.
Ar.
Orgasmos das mesmas ironias...
Espasmos do tempo.
Jovem desde o outro século.
Livro aberto nas linhas da mão.
Religião e canção abraçadas.
Sou da estrada a continuação.
Pensamento, solução.
Desejo bordô.
Sou cor.
Imensidão.
E essas palavras que trago, evangelho de meu lado mais humano.
Sou tudo o que quero e espero não mudar.
Não ligo pra grifes, pela epiderme que Deus não fabrica mais do barro...
Nem o cigarro me trás de volta.
Animais nos cercam e os ameaçamos sem entender nossos instintos.
Tu sentes, ele sente, eu sinto.
E só.
E o vento ainda sopra, sem que a chama do corpo sinta.
NOVO POEMA
Desabrochou a flor,
Como quem renasce do óbvio.
Ressuscitando em mim um aroma antigo...
Temo esse devaneio
Na possibilidade cega de amar
Como se já não houvesse sentido este gosto amargo do fim, naquilo que me era eterno...
Penetro no terno tempo das delícias
Que anseiam por carícias efêmeras
Nas cinturas pequenas da menina indecisa
E um novo poema, emblema das possibilidades
De mil e uma verdades...
Não me olhe.
pois me são quais duas lanças
que alcança a minha alma.
Não me olhe mais nos olhos,
que esse brilho me perturba
destes teus olhos azuis,
antes viver na cegueira.
Não me queira refletida na íris da tua vida,
para tu só olhar o que queira.
Não enxergar-te em meus olhos é como ver nuvem sem estrela,
qual lua encoberta pela escuridão.
Despeço-me do enlaço, de mim o teu pedaço,
a luz do meu dia que virou canção.
o amor de quem segue sua inspiração.
CAMILLA (poema-canção)
Conte pra ela do amor que fulorô
Ela é aquela, traço, pele, choro e riso
Linda donzela ciganeia meu amor
Como é que pode ser tão belo o triste fado
Se já me ardo sem saber da solidão
Um mamulengo por doçuras inspirado
Verso embalado na batida da canção
Cintila um abraço apertado
Camilla, o teu cheiro de flor
Menina, de sorriso guardado, o pecado
Minha maça-do-amor
Cintila um abraço apertado
Camilla, o teu cheiro de flor
Menina, de sorriso guardado, o pecado
Minha maça-do-amor
Como se querer bem não fosse uma loucura
Cordel dependurando as cordas da paixão
Sonho acordado cantando nosso repente
Xilogravura talhada no coração
MAS SEXO NÃO!
Pessoas preferem falar das cidades, política, física e religião.
Mas de sexo não.
Mas o sexo não.
Pessoas são classificadas por sexo e sexo é uma opção.
É pura invenção.
FLOR COM OLHOS DE CÉU
Sonhado pelo luar...
Flor fluresceu, semente
Manhã, flor de gente
No meu fulorá...
Flor quando chora
Tempera alimento
Fermento dessa paixão
Flor que devora o amor da gente
Desembocando no chão...
Flor que derrete na areia, centeia
Sereia dança no ar...
Flor que girando só deixa mudo meu canto de sereiá...
Flor girassol que em meu peito pulsa,
Expulsa os males que há...
Fulorá da aurora brota em meu peito
Segundo pra germinar...
Flor quando chora e desbota a paisagem
É a lagrima que faz o mar...
Juro jamais querer-te distante do enlaço de meu olhar...
Flor que namora a luz e o vento
Ungüento da precisão...
Sonhando flor, faço amor, ar e terra
quem dera fulorá paixão...
Flor, linda flor, caracol que desata
Matando-me de emoção
Quero fazer-te amor nesse mar
Refletido-azul-coração
Quero ofertar-te a bela donzela
Que espera reluzindo o sol...
E assim bailando em luz era ela
Fulô ôi de céu no arrebol...
SEM TI
Por ti e sem ti.
Sentindo que só estou acompanhada.
Acompanhando nossas memórias.
Vivendo de um passado que se transformou em sonho conformado.